Na última sexta-feira, 20 de outubro, faleceu Sonia Torres, presidenta das Abuelas de Plaza de Mayo de Córdoba, formada por avós de crianças roubadas na última ditadura civil-militar na Argentina.

A filha de Sonia foi sequestrada pelo terrorismo de Estado durante a gravidez e, depois de dar à luz, foi fuzilada no Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio de La Perla. O bebê nunca foi entregue à sua família biológica. Sônia o/a procurou até o fim.

Leia abaixo a mensagem da Unidade Temática de Direitos Humanos e Migrações das Mercocidades:

“’Quando os netos recuperarem a sua identidade saberão o que é liberdade’

                                                                                                                Sonia Torres.

A Unidade Temática Direitos Humanos e Migrações anuncia o falecimento e se despede da Avó Sonia Torres, Presidenta das Avós de Plaza de Mayo Córdoba, com quem a Rede Mercocidades assinou o compromisso de divulgar as ações destinadas à recuperação dos Netos e Netas que foram apropriados durante a última ditadura cívico-militar argentina e que ainda hoje sua identidade ainda não foi restaurada.

Sonia Torres faleceu no dia 20 de outubro, aos 94 anos, enquanto ainda procurava o neto, nascido em junho de 1976, filho de Silvina Parodi, sua filha, e de Daniel Orozco, sequestrados em março daquele ano, dois dias após o golpe de Estado e que foram vistos no centro clandestino de ‘La Perla’.

Após anos de investigação, Sonia conseguiu confirmar, por meio de uma testemunha no julgamento dos crimes de La Perla, que Silvina teve seu filho na Maternidade Provincial de Córdoba em 14 de junho de 1976. Silvia Ester Acosta disse no julgamento que ela deu à luz naquele mesmo dia e encontrou Silvina na sala de parto. Em seu depoimento, ela relembrou o sofrimento de Silvina, que só conseguiu ficar dois dias com o bebê. Posteriormente, a criança foi levada para a Casa Cuna e a mãe foi levada para La Perla, onde foi assassinada.

Nestes 47 anos, estendeu sua militância a diversos espaços de luta e aderiu ativamente a novas causas como as marchas de 8 de março, #NiUnaMenos e diversas mobilizações em defesa dos direitos das mulheres e das pessoas LGBTQI+.

Foi a última das Avós da Plaza de Mayo Córdoba, filial que fundou junto com Otilia Lescano de Argañaraz – falecida – que também procurava seu neto, filho de María de las Mercedes Argañaraz e Tomás José Fresneda, sequestrados em julho de 1977 em Mar del Plata no âmbito da ‘A Noite das Gravatas’. Tomás era advogado e trabalhava em diversos sindicatos e Mercedes – grávida de cinco meses – era filiada ao PRT-ERP. O casal já tinha dois filhos, Ramiro e Martín. Este último é o atual Delegado do Observatório de Direitos Humanos do Senado Nacional e ex-Secretário de Direitos Humanos da Argentina, e participou junto com Remo Carlotto, Diretor Executivo do IPPDH MERCOSUL nas últimas atividades organizadas pela UT. de Direitos Humanos e Migrações em Córdoba.

A constante procura da filha, do neto e do genro e a sua posterior incorporação como Mães e Avós de Plaza de Mayo, transformaram Sonia Torres numa referência em matéria de Direitos Humanos.

Ontem, 22 de outubro, foi lembrado o Dia Nacional do Direito à Identidade na Argentina. Muitas crianças apropriadas durante a ditadura cresceram em outros países com identidades falsas. Até 2023, 137 netos e netas já foram recuperados de 393 casos notificados somente na Argentina. Existem numerosos netos e netas encontrados no resto da América e na Europa. Lembre-se que se você nasceu entre 1975 e 1983 e tem dúvidas sobre sua identidade, pode entrar em contato com https://www.abuelas.org.ar, sua identidade é um direito seu.

Em dias de negação e discurso de ódio contra organizações de Direitos Humanos e seus representantes, lembramos dela. ‘Não vou deixar este mundo até achar o meu neto’, dizia ela em cada ocasião e mesmo assim Sonia Torres nos deixou, mas a sua pegada permanece e a sua vontade de procurar fica com todos nós que defendemos a VERDADE, A MEMÓRIA E A JUSTIÇA em nossa região.”