No passado domingo assumiu seu cargo Emilia Nuyado Ancapichún, a primeira dirigente indígena que assume como deputada em toda a história do Chile. Este fato histórico retoma a luta política institucional do povo mapuche depois de 45 anos.


A deputada foi aclamada mediante vozes e aplausos enquanto se aproximava para votar na eleição do novo presidente da Câmara Baixa. Vestida de preto e branco, com o traje tradicional das mulheres araucanas, cumprimentou ao público com o rosto sorridente. Um rosto indígena, de sorriso largo e olhos negros puxados.

Atos de apoio se sucederam, tanto dentro como fora do Congresso. Umas 180 pessoas de várias comunidades mapuches viajaram a Valparaíso para receber a sua “ñaña” (irmã) e celebrar sua chegada ao parlamento.

Emilia Nuyado é mapuche-huilliche, oriunda da comunidade de Huacahuincul, a 30 quilômetros de Osorno. Graças ao salário que ganhava sua irmã mais velha trabalhando como empregada, Emilia pode se dar o privilégio de ir à escola, onde chegava caminhando descalça quase 4 quilômetros. Quando não estava estudando, Emilia trabalhava com seu pai na feira. Ele a incentivou a entrar na política. Formou dois comitês rurais de mulheres, foi vereadora durante quatro períodos e no ano 2002 foi eleita como conselheira nacional da Corporação Nacional de Desenvolvimento Indígena (Conadi), lugar que manteve durante três períodos. Para ambos os cargos foi eleita com a primeira maioria. E em 2017 se candidatou como deputada, ganhando com aproximadamente 8 mil votos. Hoje representa na Câmara baixa do distrito 25, que inclui as comunas de Osorno, San Juan de la Costa, San Pablo, Puyehue, Rio Negro, Purranque, Puerto Octay, Fresia, Frutillar, Llanquihue, Puerto Varas e Los Muermos.

Antes de Emilia, houve oito deputados que pertenciam à liderança social de seu povo que legislaram em diferentes períodos entre 1924 e 1973. O último em ser eleito foi Rosendo Huenuman, quem não alcançou a exercer seu cargo pela interrupção do Golpe, que truncou todo um processo de luta política institucional. De volta à democracia, entraram Francisco Huenchumilla (DC) e René Alinco (PPD), ambos de ascendência indígena, porém nenhum ligado ao movimento social.

A entrada de Nuyado ao Congresso pretende buscar justiça e retomar um processo que seu povo iniciou há décadas e que foi extirpado há 45 anos. Este domingo os pés indígenas voltaram pisar o Congresso. E por primeira vez na história esses pés são de uma mulher.

Fonte: Nodal