No último sábado, 3 de maio, representantes de cidades e organizações da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Espanha e Uruguai compartilharam reflexões e experiências sobre o cuidado, enfatizando a necessidade de implementar políticas públicas em diferentes níveis de governo e avançar para um novo contrato social para alcançar as transformações culturais necessárias.

O evento foi organizado conjuntamente pela Mercocidades, ONU Mulheres, a Deputação de Barcelona e Prefeitura de Montevidéu; com a colaboração da rede global Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), no âmbito do Fórum Mundial de Cidades e Territórios da Paz.

O diálogo “Cidades que Cuidam” foi aberto por autoridades das instituições organizadoras, que refletiram sobre a perspectiva holística na consideração de políticas públicas de cuidado e a importância do reconhecimento do trabalho não remunerado, bem como a relevância de espaços como esses na troca de estratégias.

O prefeito anfitrião, Mauricio Zunino, abriu o debate enfatizando que “trabalhar no cuidado é um compromisso que devemos assumir para erradicar as violências de gênero… para promover isso, devemos trabalhar na possibilidade de autonomia econômica e desenvolvimento, realizar ações para reduzir os vieses da desigualdade e avançar na equidade”.

Por outro lado, Ana Falú e Paula Fortes ofereceram o marco conceitual para o diálogo. Fortes, representando a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais no Chile, compartilhou suas reflexões sobre a crise do cuidado na América Latina a partir de uma perspectiva acadêmica, enfatizando as consequências do envelhecimento acelerado da população e a necessidade urgente de desenvolver políticas sobre o assunto em diferentes níveis de governo. Enquanto isso, Ana Falú, falando da perspectiva dos movimentos sociais feministas e como representante da Ciscsa “Cidades Feministas” e conselheira da ONU Mulheres, enfatizou que estamos diante de uma grande revolução, desafiando a organização social do patriarcado no mundo todo. Uma situação que exige um novo contrato social a ser construído por todos.

Mais tarde, várias experiências nesta área foram compartilhadas.

A Secretária Nacional de Cuidados e Deficiência do Uruguai, Susana Muñiz, destacou o trabalho em cuidados com organizações sociais e academia, destacando que a experiência e o trabalho acumulado permitem alcançar um financiamento sustentável ao longo do tempo e fortalecer os mecanismos de governança.

Por sua vez, Silvana Haro, Secretária de Inclusão Social de Quito (Equador), refletiu sobre princípios orientadores e eixos estratégicos que permitem a implementação de políticas sociais: “O sistema de cuidados busca dar valor social, político e econômico ao cuidado para a subsistência da vida”. Ela também mencionou o trabalho sobre políticas de primeira infância, envelhecimento digno e fortalecimento do tecido social para o cuidado humano.

Por outro lado, a prefeita de Quilmes (Argentina), Mayra Mendoza, destacou que em sua cidade acreditam que “construir políticas de cuidado também significa promover uma gestão participativa, em diálogo constante entre uma comunidade organizada e um governo municipal eficiente, moderno, criativo e, acima de tudo, humano”. Ela também alertou sobre a situação em seu país, afirmando que “o governo nacional está ausente e as demandas de nossos vizinhos e vizinhas crescem a cada dia”.

Karolina Guerrero, Secretária de Paz de Buenaventura (Colômbia), destaca o papel crucial das mulheres no processo de recuperação e paz em uma cidade assolada por conflitos e com inúmeras vítimas de desaparecimento forçado. E uma comunidade resiliente, trabalhando para reconstruir a paz.

Fernanda Sixel, chefe do Escritório de Direitos e Políticas de Cuidado de Niterói (Brasil), fez referência à criação da área de Políticas Transversais de Direitos e Cuidados na cidade, destacando os programas de desenvolvimento, urbanização integral, resiliência urbana e inclusão social: Vida Nova no Morro, Niterói por Elas e Programas de Infância.

Por outro lado, Are Izquierdo, analista de programas da Organização Pan-Americana da Saúde, observou que as organizações internacionais devem defender as políticas públicas de cuidados e facilitá-las por meio da geração de dados e evidências.

O diálogo foi encerrado por Emilia Saiz, Secretária-Geral da rede global CGLU, e Fabiana Goyeneche, Diretora da Divisão de Relações Internacionais e Cooperação da Prefeitura de Montevidéu (cidade-sede do Fórum da Paz).

Saiz expressou o seu entusiasmo pelo tema, sublinhando que “a mudança nos serviços públicos é o próximo desafio”, salientando, ainda, que devemos reconhecer a agenda dos cuidados como uma “inspiração e aspiração” para ir rumo a cidades mais justas. Por fim, Goyeneche enfatizou a importância do cuidado para reconstruir a paz e sustentar a vida, destacando a necessidade de que as discussões sobre a seguridade social em nossos países se concentrem não apenas nas reformas previdenciárias, mas em uma abordagem de cuidado, a fim de sustentar e melhorar a qualidade de vida.

O painel foi encerrado com uma mensagem em vídeo da ex-presidente chilena Michelle Bachelet.

Acesse a transmissão completa do evento.