‘Casa Transparente’, de Maria Luque, é a obra merecedora do I Prêmio de Novela Gráfica Cidades Ibero-Americanas que organizou a União das Cidades Capitais Ibero-Americanas (UCCI) junto ao Ajuntamento de Madri e a Editora Sexto Piso. No âmbito da Feira Internacional do Livro (FIL) de Guadalajara, a prefeita de Madri, Manuela Carmena, entregou este prêmio que aspira a incentivar as expressões culturais inspiradas nas dinâmicas da cidade e enfocadas na criação de espaços de consenso e diálogo através da cultura. Junto a Luque, também resultaram vencedores Emmanuel Peña com sua obra ‘Nada aqui’ com o prêmio jovem, e Héctor Turriza, Sergio Neri e Gaspar Pantoja com outro prêmio graças a ‘Dolores do Bairro’.

A ganhadora deste prêmio, que foi possível graças ao apoio da Secretaria Geral Ibero-Americana (SEGIB), o Organismo Internacional de Juventude para Ibero-América e a Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), Maria Luque, confessou que em sua novela narra sua vida como cuidadora de casas. A autora lembra que desempenha este ofício desde que decidiu deixar seu antigo trabalho para dedicar seu tempo a desenhar. Uma aposta que a levou a ganhar os 6.000 euros deste prêmio. “Penso que o prêmio vai me ajudar a poder alugar pela primeira vez uma casa para mim sozinha”, aludiu emocionada.

A obra de Luque mereceu que o secretário da Cultura do Governo da Cidade do México, Eduardo Vázquez, elogiara que, mais que narrar uma cidade, esta novela gráfica realiza um percorrido por várias cidades ibero-americanas. Nas palavras do também copresidente da Comissão sobre Cultura das Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU) a autora cria e oferece um espaço que supera as fronteiras nacionais “onde, por exemplo, podemos encontrar a hippies argentinos guiados pelo calendário maia”, explicou. O mexicano concluiu fazendo um jogo de palavras em honra à obra ganhadora ao rememorar os versos de Miguel Hernández: “Pintada, não vazia. Pintada está minha casa da cor das grandes paixões e desgraças”.

Também Liniers, jurado do I Prêmio de Novela Gráfica Cidades Ibero-Americanas, quis juntar-se da distância ao reconhecimento da obra de Maria Luque. Assim, o autor qualificou ‘Casa Transparente’ como um trabalho “terminado e arredondado, onde o desenho e o texto refletiam a fantasia dos artistas de viverem muitas vidas”.

Prêmio que Narra a Cidade

Nesta primeira edição se valorizou o talento jovem da região. Mostra disso foi o prêmio jovem, dotado com 1.000 euros outorgado a Emmanuel Peña por sua obra ‘Nada aqui’, uma obra inspirada e protagonizada pela Cidade do México. Peña narrou ter conhecido a notícia “dormido e cansado” por estar participando em diferentes brigadas da Cidade do México depois do terremoto que sacudiu à capital mexicana em setembro passado. “Emociona-me muito estar entre os premiados deste concurso. Empenhei-me muito neste livro e me ilusiona saber que foi valorizado, porque em alguns momentos parece uma causa perdida escrever livros”, disse. Este prêmio foi entregue pelo coordenador do OIJ em México, Alejandro Blancas.

Santiago Tobón, membro do jurado e editor de Sexto Piso ressaltou a obra muda de Peña por sua originalidade, por dar uma piscada “a origem das primeiras novelas gráficas onde, através de elementos como a cor, o autor conseguia resolver a ausência de texto e a capacidade narrativa da imagem”.

O outro prêmio, dotado com outros mil euros, também ficou em terras mexicanas. Os yucatecos Héctor Turriza, Sergio Neri e Gaspar Pantoja, foram os criadores da obra ganhadora desta distinção, ‘Dores do Bairro’. Turriza se referiu à obra como uma crítica às ameaças envolvidas na busca dos maiores benefícios mediante a exploração dos espaços públicos. Uma realidade que, de acordo com o autor, faz com que se perda a cultura e os modos de vida de muitas pessoas frente ao lucro de uns poucos.

Ante esta obra, Paco Roca, conhecido autor de novela gráfica e membro do jurado, reconheceu que ‘Dores do Bairro’ é “uma crítica à globalização e a como o capitalismo agressivo e despiedado termina com o comércio local, com a forma de vida de diferentes comunidades e tudo desde um grafismo de cartoon que contrasta com o lúgubre da história”.

Apresentação da ganhadora

A novela ganhadora foi apresentada no dia 28 de novembro às 17.00 horas no stand de Madri na FIL de Guadalajara (zona internacional).

Fonte: União das Cidades Capitais Ibero-Americanas 

15 de decembro de 2017