No próximo dia 8 de abril se inaugurará no Museu Gurvich de Montevidéu (Uruguai) a mostra do reconhecido artista argentino Leónidas Gambartes. A exposição, que conta com o apoio das Mercocidades, permanecerá aberta até o próximo dia 8 de julho.
A mostra exibirá 40 obras do artista e, também se poderá apreciar um cuidadoso catálogo de 130 páginas no qual foram reproduzidas todas as obras expostas junto a três textos de destacados críticos de arte: Nelson Di Maggio (Uruguai), Emilio Ellena (Argentina) e Fernando Farina (Argentina), além de uma elaborada Cronologia de Andrea Giunta e uma seleção de textos documentais de destacados intelectuais rio-platenses.
Esta é a primeira exposição que realiza o museu Gurvich dedicada a um artista estrangeiro. Trata-se do excelente artista argentino, Leónidas Gambartes, nascido na cidade de Rosário em 1909 e falecido em 1963.
O público uruguaio poderá apreciar 40 obras de relevância, numa mostra antológica, integrada fundamentalmente por obras de propriedade da família e próximos.
O interessante deste criador é que, tendo vivido muito vinculado ao local, maneja uma linguagem universal, permeado pelas correntes vanguardista da Europa, mas ancorado nas crenças populares da região. Feitiçarias, superstições, legendas e mitos, assim como personagens da paisagem humano da sua volta.
Gambartes foi dono de uma técnica refinada. Sua obra merecerá um cuidadoso recorrido, para alcançar o caminho cheio de sutilezas, invenções, distorções com que recorre essa beirada da nossa cultura em comum com os argentinos: o que vem da terra, como dizia o próprio Gambartes.
Tem-se preparado visitas guiadas nas terças-feiras, quartas-feiras e quintas-feiras, além de atividades educativas e de recreação relacionadas com a mostra, recorridas com Niré Collazo, a destacada Conta-contos do nosso país, que depois de mostrar aos visitantes infantis e juvenis a exposição, contará legendas do litoral.
A mostra tem um cuidadoso catálogo de 130 páginas, no qual são reproduzidas todas as obras expostas, conta com três textos de destacados críticos de arte: Nelson Di Maggio (Uruguai), Emilio Ellena (Argentina) e Fernando Farina (Argentina), com uma elaborada Cronologia de Andrea Giunta e uma seleção de textos documentais de destacados intelectuais rio-platenses.
Será projetado o filme «Gambartes, verdades essenciais» (2004), do documentarista argentino Miguel Mato. Nele, o diretor retrata a pouco conhecida personalidade do pintor argentino que, desafiando a cegueira, desenvolveu uma produção artística dedicada a pesquisar e recriar as mitologias indígenas da cultura do litoral ainda presentes nos rituais domésticos da gente do interior.
Fragmento do texto de Nelson Di Maggio sobre a obra de Gambartes.
[…] Suas imagens são sempre figurativas, mas de inacreditável poder de abstração. «Predestinado a ser um pintor de câmara», sentenciou Damián Bayón. Em efeito, é um pintor intimista, se desliza mais que pelo formato de discreto tamanho pela dimensão íntima que o anima, sustenta um diálogo quase sussurrante com o receptor, porque como dizia «Se me leva dias e semanas para fazer um quadro não gostaria que o público o examine de uma só olhada; gostaria um público lento, que se detenha a olhar demoradamente a pintura e que não veja esse produto como o de um homem alucinado, senão como o de um homem que fala dele e dos homens e, que trata de materializar formas objetivas, quer dizer, que a minha sincera atitude ante a pintura eu gostaria que fosse correspondida». Um desejo difícil de satisfazer na atualidade, com o vertiginoso passar das imagens tecnotrônicas e a conseguinte decadência do olho como o denunciou Paul Virilio, mas é um requisito indispensável para desfrutar e decifrar sua obra.
A representação da mulher em seus trabalhos cotidianos (lavar, tomar chimarrão, pendurar a roupa) predomina na primeira metade dos anos cinqüenta, porém o aspecto anedótico, que em certa medida, perturba o acesso à obra ao privilegiar o aspecto central da composição e manter a tradicional oposição fundo e figura. Tenta suavizar essa impositiva visão com o tratamento de uma paleta de grande mobilidade na cor e na matéria trabalhada com extrema sutileza e refinamento até criar uma envolvente atmosfera poética, enquanto os golpes do pincel exercem sua própria dinâmica estabelecendo uma profundidade pictórica de capas sobrepostas. (, 1949, Conjurantes en rojo, 1952, El mate, c.1953, La poseída, c. 1953, Figuras en azul, 1956) . Ao mesmo tempo, deixa transluzir sua devoção por Klee (Mariposas, Mariposas II, Insectos en la luz, as três possivelmente de 1957) tanto nos pequenos planos de cor ou no torturado traço já quase em plena abstração. Uma abstração que se abre com singular vontade expressiva em Mitoformas en blanco, c. 1954, onde os elementos representativos (um rosto, uma cuia) emergem de um matizado conjunto de suaves estruturas lineares, como através de um vidro embaciado. […]
Leónidas Gambartes
8 de abril / 8 de julho / 2008.
Museu Gurvich – Montevidéu- Uruguai
Ituzaingó 1377 . Praça Matriz